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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

AlgO À pErdEr? : A vErgOnhA!

1
pergunta-se: em que sentido podemos afirmar a vergonha? a vergonha é um estado ou é um acontecimento? se a vergonha for um estado ela se mostra como questionamento geral. se a vergonha for um acontecimento ela se mostra como uma curva de um percurso reto. sendo questionamento geral, ela se dá como uma sensação de perdição. sendo curva ela se dá como uma sensação de perda. na vergonha algo se perde ou está em perdição. perda é desaparecer. perdição é nem mesmo aparecer. desaparecer é não se ter mais referenciais. nem mesmo aparecer é o caso geral de que não há nada a perder - aqui não se tem nada. a vergonha como acontecimento abre um jogo para uma subjetividade referida a uma desaparição particular: a do outro, ou a sua própria. como estado denuncia não a perda, mas o caráter ilusório da própria constituição da posse. 

2
na vergonha sinto a impossibilidade geral dos acontecimentos. nada possuo: pudor vazio. o que esconder? o que desaparecer? minha fragilidade, meu efêmero? mas o princípio de tudo o que conheço, penso, sinto e vivo se mostra na fragilidade e no efêmero. na vergonha sinto a verdade primeira de tudo o que existe: a própria vida que perde seu caráter vivente. na vergonha sinto o mundo inerte, casual, estranho a toda natureza; perco a própria idéia de alguma natureza. na vergonha emerge a ausência original da vida. as "forças" que aqui atuam me levam para fora: aqui não tenho nada a guardar; aqui sou conservador sem objetos para conservar.

3
vergonha é isso que não se pensa, mas isso a partir do que todos os pensamentos insistem razões de ser. vergonha designa sempre não um objeto, mas um ponto de vista; um certo ângulo de visão. pois o que está sujeito a desaparecer? o desaparecimento da possibilidade de acontecimento, respondo na falta de algo mais frágil e provisório. a vergonha como acontecimento a desaparecer surge quando o mais familiar vem-se superpor ao mais desconhecido: sou incapaz em reconhecer ou constituir uma natureza; sou inapto à existência. sinto vergonha ao sentir que estou no meio do nascer e do morrer. sinto vergonha de ser uma obscura aparência e sombra. sem pudor, sou uma incerta e débil opinião. 

4
todo acontecimento se mostra como um reflexo do estado.  toda perda se mostra como um reflexo da perdição. todo desaparecimento se mostra como um reflexo do nem mesmo aparecido. ao sentir vergonha sinto que existe "alguma coisa", mas essa alguma coisa não é nada; nenhum dos seres concebidos e concebíveis. ao sentir vergonha excluo da existência a própria noção de ser. é uma constatação empírica da vergonha. sentir vergonha é definir; definir é determinar uma natureza; ora, nenhuma natureza é.  no estado de vergonha vejo o mais forte elo de toda forma de racionalismo:  tudo se repete. sem vergonha sou o mundo em festa: irrupções inesperadas, excepcionais; não sobrevindo senão uma vez e que não se pode apreender senão uma vez. 

5
de maneira geral, o pensamento da vergonha  também admite, para caracterizar o conjunto dos modos de existência, senão o estatuto da exceção. tudo é excepcional. não tenho nada a perder. não há o que possuir. 


léo pimentel – amante da heresia, cerrado 2003



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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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