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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

stirnerianas - parte [i] psicogêneses do eu impessoal

[i] psicogêneses do eu impessoal

[i.i]. em mim mesmo – para mim, não há nada acima de mim. ao nascer fui entregue à insuportável indiferença do ser: colocado de frente a outros mortais, na condição de que, do ponto de vista da mortalidade, não há morte melhor que outra; nem acima, nem a baixo estamos uns dos outros. horizontalidade do descrédito fundamental. sentimento de vacuidade. incapazes de espírito, nascemos “anticristos”, antipatrióticos, anti-sociais. nada há de verdadeiro em tais coisas. estamos a bel-prazer. não temos ideais, idéias nem pensamentos. nascemos corpos, pessoais e egoístas. vivemos para si. referência única de todas as coisas. niilistas de símbolos. aterrados neste mundo suficiente pelo princípio do atual suficiente. somente eu sou corpo. deus, governantes, líderes religiosos, pátrias, etc., meras desnecessidades.

[i.ii]. falta de espiritualidade – a infância se estabelece  como desinteresse pela mesquinhez de sua vida. o corpo infantil começa a não mais ter reflexo no espelho. pedagogia para o anti-narcisismo. imagem liberta. na promessa de que, sem reflexo, jamais se sentirá oprimido e amedrontado. à indiferença do ser não lhe é dada mais importância alguma. planta-se a esperança do liberar-se das coisas do atual suficiente. a vida enquanto vida suficiente torna-se “vida verdadeira”. ou seja, vida insuficiente. a verdade é a insuficiente. tal qual a insuficiência é a verdade. o mundo vazio de verdade no nascimento, na infância torna-se cheio. rejeita-se a suficiência na impossibilidade de se liberar da indiferença do ser. toda participação daqui para frente deve ser cuidadosa, paranóica e de pura cordialidade. o vazio é introduzido ao corpo. é nomeado como alma. abertura para que tudo torne-se participação espiritual.

[i.iii]. insurreições da vacuidade – tornado estrangeiro e liberto do atual suficiente, é preciso ter planos de insuficiência: melhoramento de vida, salvação do mundo.  banimento radical de nós próprios. seu eu torna-se insuficiente. ser outro é a necessidade: ser alma;  ser espírito; ser humano. verdadeiramente verdadeiro. verdade em si. assim o vazio introduzido no corpo infantil é preenchido. tornando-o corpo ilusório. corpo para culto e serviço. pessoa santificada que guerreará por toda sua vida contra os prazeres egoístas. abstrações e espectros combatendo o histórico de uma materialidade. mortalidade subjugada. neste momento a “vida verdadeira” acaba por fixar-se da forma mais opressiva possível: sacralidade. o grande entusiasmo! origem de toda religiosidade. entusiasmado, apenas se vive enquanto a lei aí vive. caso contrário, nunca se estará seguro de sua vida. assim, um jovem nunca poderá compreender um nasciturno.

[i.iv]. a renúncia a si mesmo – capazes de espírito, eis que é chegado momento. uma vida inteira de sentimentos impostos. sentimentos para que neles acreditemos e para que deles dependamos. necessidade maior do que para com o oxigênio. deus, pátria, família, liberdade, imortalidade, humanitarismo, democracia: todos sentimentos distanciados de suas idéias. pois estas ao menos podem ser reversíveis e abandonadas. nenhuma iniciativa nos é mais deixada. nos restando apenas o temor, o respeito, a veneração e a submissão. nenhum sentimento próprio. nenhum sentimento apropriado. por vezes, de modo repentino, volta o entusiasmo. com ele pretende-se atacar um velho poder, não um velho sentimento. apenas para legitimar outro poder de mesmo sentimento. perante a capacidade de espírito, perdemos qualquer sensação de poder e perdemos toda a coragem. tornamo-nos impotentes e humildes. descemos ao nível da nulidade.

[i.v]. do desleixo criativo à obsessão do aprendiz – já adulto a consolidação: impossibilidade de por em causa e em dúvida seus próprios axiomas. nenhuma dedicação, a não ser os interesses de sua mediocridade. dominado por uma única paixão que sacrificou todas as outras. unilateral, limitado e estreito. possuído por uma obsessão. sacrificado por “grandes idéias” e “grandes causas”. ferrenho defensor de uma lista de idéias sagradas e seus respectivos sentimentos imposto em sua infância. sua vida não é experimento de nada seu: interesses pessoais e profanos. é experiência de preceitos da moralidade: auto-humilhação da boa educação. ensinado. inculcado. herdeiro da liberdade adentro dos limites da lei. do ego infantil cresceu ao nível do superego maduro. verdadeiro “estado-de-exceção-de-polícia-secreta”: cristão, cidadão, liberal. um ente concreto obrigado a viver segundo leis conceituais.

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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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